Saturday, October 21, 2006

Lula Côrtes & Zé Ramalho - Paêbirú (1975)




DOWNLOAD!



Faixas:
01. Trilha de Sumé
02. Culto à Terra
03. Bailado das Muscarias
04. Harpa dos Ares
05. Não Existe Molhado Igual ao Pranto
06. O M M
07. Raga dos Raios
08. Nas Paredes da Pedra Encantada
09. Marácas de Fogo
10. Louvação a Iemanjá
11. Regato da Montanha
12. Beira Mar
13. Pedra Templo Animal
14. Trilha de Sumé



A primeira vez que o Brasil ouviu Zé Ramalho da Paraíba foi na voz de Vanusa, que gravou a canção Avohay em seu disco "Vanusa - 30 Anos", em 1977, pela Som Livre. Um ano após, já sem o 'Paraíba", Zé Ramalho ganhou as paradas nacionais com sua enigmática e encantadora mistura sonora. Antes disso, noi entanto, tão fantástica quanto suas letras, a história de Zé Ramalho registra a gravação de um disco que ficou perdido nos escaninhos do tempo.

Trata-se do raríssimo álbum duplo "Paêbirú", creditado a Lula Cortês e Zé Ramalho, gravado entre os meses de outubro e dezembro de 1974, na gravadora Rozemblit, em Recife (PE). Com eles, estão Paulo Rafael, Robertinho de Recife, Geraldo Azevedo e Alceu Valença, entre outros. Na época, Lula Cortês tinha em seu currículo o álbum "Satwa" (1973), que trazia canções com título como "Alegro Piradíssimo", "Blues do Cachorro Louco" e "Valsa dos Cogumelos". Zé Ramalho, já tocando com Alceu Valença, tinha em sua bagagem a experiência de grupos de Jovem Guarda e beatlemania, como Os Quatro Loucos, o mais importante de todo o Nordeste.

Clássico do pós-tropicalismo, com (over)doses de psicodelia, o álbum trazia seus quatro lados dedicados aos elementos "água, terra, fogo e ar". Nesse clima, rolam canções como o medley "Trilha de Sumé/Culto à Terra/Bailado das Muscarias", com seus13 minutos de violas, flautas, baixão pesado, guitarras, rabecas, pianos, sopros, chocalhos e vocais "árabes", ou a curta e ultra-psicodélica "Raga dos Raios", com uma fuzz-guitar ensandecida. E, destaque do álbum, a obra-prima "Nas Paredes da Pedra Encantada, Os segredos Talhados Por Sumé" (regravada por Jorge Cabeleira, com participação de Zé Ramalho), com seu baixo sacado de Goin' Home dos Rolling Stones sustentando os mais pirados 7 minutos do que se pode chamar de psicodelia brasileira.

O disco por si só é uma lenda, mas ficou mais interessante ainda pelas situações que envolveram a sua gravação. A gravadora Rozenblit ficava na beira do rio Capiberibe, e o disco, depois de gravado, foi levado por uma das enchentes que assolavam a região. Conta a lenda que sobraram apenas umas trezentas cópias do disco, hoje nas mãos de poucos e felizardos colecionadores, muitas das quais no exterior, onde foram parar a preço de ouro. Contando com a co-produção do grupo multimídia Abrakadabra, o disco trazia um rico encarte, que também sucumbiu ao aguaceiro.

Hoje "top 10" das paradas de CDr no país e ítem valioso no mercado internacional de raridades psicodélicas, o álbum segue misteriosamente inédito no mundo digital. Com isso, a indústria dicográfica brasileira perde uma boa oportunidade de provar que se preocupa um pouco mais do que com o tilintar da caixa-registradora. "Paêbirú", que quer dizer "o caminho do sol" (para os incas), poderia ser o primeiro de uma série de raridades a ganhar a luz do dia, para ocupar uma fatia de mercado que, se pequena comercialmente, é fundamental para a preservação da cultura musical brasileira.

Texto de Fernando Rosa, originalmente publicado na revista Showbizz.


Fazer o download de Lula Côrtes & Zé Ramalho - Paêbirú (1975).

Monday, October 16, 2006

Ednardo - Pessoal do Ceará (1973)




DOWNLOAD!


Faixas:
01. Ingazeiras
02. Terral
03. Cavalo Ferro
04. Curta Metragem
05. Falando da Vida
06. Dono dos Teus Olhos
07. Palmas pra dar Ibope
08. Beira-Mar
09. Susto
10. A Mala



Impossível dizer como tudo começou. Poderíamos partir dos shows do Instituto de Física da Universidade Federal do Ceará (1965). Poderia ser a Escola de Arquitetura, que tornou-se (1966) o ponto de realização das "tertúlias-etílico-lítero-musical e badernosas". Poderia ser o Bar do Anísio, onde se bebia todas as fossas, todas as alegrias e se aguardava o sol...
Poderia também ter começado com os galos e cangaceiros de Aldemir Martins, ou os dragões do Chico da Silva... os contos do Juarez Barroso... teria começado no singular movimento revolucionário, sério, satírico, cultural e de danações em geral da "Padaria Espiritual" (1892-1898), ou ainda na Academia Francesa de Letras (a primeira nacional), ou já mais recentemente no movimento de teatro.

Era um sábado. Sábado à tarde e o rádio mostrava uma das mais inteligentes entrevistas. Nela, Júlio Lerner mostrava ao público de São Paulo um novo grupo. Como não houvesse uma marca, ainda para esse grupo, ele era designado a cada intervalo como Pessoal do Ceará.
E no dia seguinte já moravam nos ouvidos da gente a nova informação e o quase susto que as composições e as interpretações dos meninos nos passara.
O mesmo produtor levou-os à televisão, onde o grupo tomou parte num dos mais inteligentes programas de São Paulo: "Proposta". Apresentados ao grupo por Moracy Do Val, adotamos a "cidadania musical" cearense de hoje. E eis o disco pronto.
Nosso trabalho foi todo feito com o mesmo amor e carinho como se tecem os lindos bordados que esta capa estampa.
Ponto a ponto movidos pelos bilros da amizade fomos nos juntando. Hareton Salvanini, este excelente maestro-cantor-compositor que até agora, vinha trabalhando em publicidade e em trilhas sonoras para cinema e televisão, também juntou-se a nós e como eles faz aqui a sua estréia em disco ... a renda vai ficando cada vez maior, que só será completa se você também entrar nela.

Rodger Rogério e Tetty, são casados e pais de dois lindos filhos. Ele professor de Física da USP, não aparenta os vinte e oitos anos que tem. Ela, com aquela voz pequena e incrivelmente afinada, é a "estrela" deste grupo. Todos os desvelos são para Tetty, importante revelação musical deste ano.
Ednardo é talvez, o mais habituado com as transas todas do ambiente, uma vez que até produção de programas musicais já fez. Tem vinte e sete anos e tem mais identificação com o grande público, ao primeiro ouvir, por serem suas obras agitadas e comunicativas, nem porisso menos importantes do que as do Rodger Rogério.
O Pessoal do Ceará, não é um conjunto vocal. É um grupo de novos mensageiros que, cada um à sua maneira, dá o recado mais importante desta temporada.

PS.: INGAZEIRAS foi feita para Aldemir Martins. A MALA foi gravada exclusivamente por Tetty e Hareton que toca piano, órgão, sintetizador e faz o
vocal inicial. Em BEIRA-MAR note-se a participação de Tetty.

Textos de Ednardo, Rodger Rogério e Walter Silva, encartados na edição original do LP.


Fazer o download de Ednardo - Pessoal do Ceará (1973).

Monday, October 02, 2006

Jards Macalé - Jards Macalé (1972)




DOWNLOAD!


Faixas:
01. Farinha do Desprezo
02. Revendo Amigos
03. Mal Secreto
04. 78 Rotações
05. Movimento dos Barcos
06. Meu Amor me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata
07. Let's Play That
08. Farrapo Humano - A Morte
09. Hotel das Estrelas



Jards Macalé, primeiro disco do cantor carioca, é um dos trabalhos mais inusitados da música brasileira. Um disco até hoje duro de ser conceituado - e por isso mesmo genial, e tantas vezes esquecido. Feito após Jards ter passado por experiências diversas como músico, o álbum marcava sua transição para a via pop, revolucionando a música brasileira ao mesclar rock, samba, eruditismo, jazz, bossa-nova, tropicalismo, melancolia e sofrimento em doses cavalares. Gravado às pressas, da forma mais minimalista possível (com Jards no violão, Lanny no violão solo e no baixo e Tutty na bateria), o disco traz uma sonoridade crua, anti-comercial, com letras que chegam a soar punks. O LP abria com "Farinha do desprezo", quase um anti-rock, desconstruído, misturado com samba e jazz (a letra: "só vou comer agora da farinha do desejo/alimentar minha fome para que nunca mais me esqueça/como é forte o gosto da farinha do desprezo").

Uma vinheta com "Vapor barato" a capella - cantada de forma quase fúnebre, fantasmagórica mesmo - antecede o forrock "Revendo amigos", que chegou a ir 12 vezes para a censura, encucada com versos como "se me der na veneta eu morro/se me der na veneta eu mato". Numa época em que Roberto Carlos era rei, Jards só oferecia romantismo em faixas originais como o quase-samba "78 rotações", na voraz "Meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata" e na desolação de "Movimento dos barcos". O lado mais característico de Macalé, no entanto, era a faceta melancólica e existencial de faixas como o rock "Mal secreto" ("massacro meu medo, mascaro minha dor, já sei sofrer") e o hino "Let's play that" ("vai, bicho/desafiar o coro dos contentes", dizia a letra de Torquato Neto). Num viés tenso, repleto de improvisos roqueiros ao violão, em que não havia oposição entre tristeza e felicidade, alegria e melancolia ("dessa janela sozinha/olhar a cidade me acalma/estrela vulgar a vagar/rio e também posso chorar", diz a letra de "Hotel das estrelas", que fechava o disco), Jards Macalé também trazia o rock´n roll suicida e ágil de "Farrapo humano" (de Luiz Melodia) - sintomaticamente seguido pelo samba "A morte", de Gilberto Gil.

A ousadia custou caro: Jards Macalé acabou tendo pouca tiragem e logo foi tirado de catálogo. O cantor iniciou uma série de shows, mas continuava com problemas de colocação no mercado. Em 1973, liderou na Philips um misto de show-disco coletivo, O banquete dos mendigos, feito por ele e por vários amigos para comemorar o aniversário de 25 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem e, de quebra, ajudar a tirar a conta de Macalé do vermelho: o show foi feito, mas o disco ao vivo acabou sendo completamente censurado e só liberado em 1979 (e já pela RCA).
Texto de Ricardo Schott, publicado no site The Freakium!.

Fazer o download de Jards Macalé - Jards Macalé (1972).