Tuesday, March 18, 2008

Os Incríveis - Les Increibles (1965)




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Faixas:
01. Oleoducto (Pipeline)
02. Kiddy Kiddy Besame
03. Risueño (Tic Ti Tic)
04. En la Ciudad (Downtown)
05. Peter Gunn
06. Te Estas Poniendo Negra (Sei Diventata Nera)
07. Tierra Maravillosa (Wonderful Land)
08. Es Inutil (E Inutile)
09. Veneno
10. Donde Fue Nuestro Amor
11. Cabalgata (Cavalgada)
12. Macaca Foo


Trecho de entrevista de Netinho e Nenê por Marcelo Fróes e Elias Nogueira, publicado originalmente no site JovemGuarda.com.br


Os Incríveis tinham uma estrutura enorme, eram uma das maiores bandas brasileiras numa época em que isso nem existia por aqui.

Netinho - Nós tínhamos um entrosamento de empresário com gravadora, e nós chegávamos a xingá-los por trás. Era um pouco de ingenuidade, de imaturidade e até de burrice, mas a gente não deixava eles atuarem com a gente - colocando músicas mais populares, pra que vendesse mais etc. A gente brigava muito por causa disso, mas a gente também tava certo... porque a gente era bom músico, e com isso a gente tinha um cachê maior que o do Roberto Carlos. De repente Elis ou Roberto estavam estourados, cobrando 10 mil por show, mas a gente cobrava 12 mil. Ele podia estar estourado e ser o maior fenômeno, mas ele cobrava 15 mil... e a gente cobrava 16 mil. Era engraçado... Nossos shows eram performáticos, a gente fazia coisas inusitadas no palco. Isso nos levou pra fora do Brasil. A gente fazia show lá fora e ninguém sabia que música era a nossa. A gente fazia show no Japão, na Itália, tocava em navios. A gente passou um ano na Itália. A gente chegou a ganhar sete prêmios Roquete Pinto seguidos, um atrás do outro, além do troféu Governador do Estado de São Paulo.

A viagem à Argentina tem algo a ver com a mudança de Clevers para Incríveis?

Netinho - Nós mudamos lá, primeiramente para Los Increibles. Na verdade, quando nós fomos pra Argentina, nós tínhamos um empresário - quera o Antônio Aguillar - e aí acabou que entrou outro empresário na jogada.

Foi aí que rolou a briga?

Netinho - Foi aí que rolou uma confusão, não nossa com o Aguillar... mas, naquele medo de nos perder, os empresários brigaram porque queriam nos ganhar. A gente então resolveu mudar o nome para Os Incríveis, porque ele já tinha sido utilizado como adjetivo no disco "Os Incríveis The Clevers".

Sim, mas isso porque o Aguillar tinha registrado o nome The Clevers, não?

Netinho - Sim, também tinha isso. Exatamente, mas como lá na Argentina o pessoal pensava que a gente era americano, por causa do nome The Clevers, e a gente estourou e se tornou a primeira banda de lá - sem disco mesmo, tocanco outras coisas, e não as músicas do nosso repertório de cá. Ninguém nos conhecia, a gente fazia show mesmo... e aí nós gravamos lá, pela Columbia, como Los Increibles. E foi aí que a banda estourou lá, mas a gente quis voltar... e eles não queriam deixar, porque a banda estava estourada também na Venezuela. Aí eu, pra variar, pisei na bola... pra voltar pro Brasil... como voltei da Itália do mesmo jeito. Saí com a mulher do empresário lá e deu um rolo do caramba. Voltamos pro Brasil... e foi a sorte nossa, eu sempre dei sorte nisso, porque eu não agüentava mais ficar lá. Ninguém agüentava mais. Era pra gente ter feito mais discos lá, mas em função deste "problema" nós acabamos retornando pra cá. E foi a época que deu umas confusões, mas eu não vou contar... porque senão daria muita confusão.

Os Incríveis fizeram um filme nos anos 60, "Os Incríveis Neste Mundo Louco"...

Netinho - Sim, é um filme do Primo Carbonari. É tipo "Os Reis do Iê Iê Iê", e é colorido. Na história, a gente entra escondido num navio e eles acabam descobrindo e botam a gente pra trabalhar. Mas nós também fizemos um outro filme, um faroeste no qual eu faço o papel do xerife.

Vocês também tiveram programa na TV.

Netinho - Foi uma solução que nós encontramos na época, para aquele conflito com empresários e gravadoras. A gente precisava explorar a rebeldia, fazendo coisas que ninguém conseguisse imitar. Era uma besteira, na verdade, mas enfim... era próprio da gente. Foi quando alguém falou pra gente fazer um programa de TV, onde poderia mostrar tudo. Foi aí que a gente começou a mostrar a banda individualmente. Nosso programa na TV Excelsior era concorrente do Jovem Guarda, domingo à tarde mesmo.

Os Clevers ou Os Incríveis também passaram por essa coisa de ser a banda da casa na Continental - acompanhando artistas, fazendo base para orquestras e gravando discos sob nomes de fantasia?

Netinho - Não, nós não gravamos sob pseudônimo... mas a gente chegou a ser o artista número 1 da Continental e, quando acompanhava alguém, recebia crédito... como naquele disco com Orlando Alvarado. O primeiro disco dos Clevers foi gravado no final de 1962 e ainda saiu em 78 rpm. Sabe quem produziu? Poly! Naquela época, a gente gravava um 78 rpm e, se vendia bastante, a gente gravava outro. Se também vendesse bastante, depois de dois ou três 78 rpm, aí você fazia um compacto duplo... Quando acabou o 78 rpm, criaram o compacto simples. Você teria que emplacar três ou quatro simples para chegar ao álbum... e nós conseguiu esses objetivos, sempre... porque a gente fazia dois, três ou quatro compactos, para chegar ao LP. Fomos o primeiro artista da Continental... mesmo depois que mudou de nome... Mas, além de mudar de nome, a gente ainda foi buscar o Nenê... porque nós já o paquerávamos. Nós precisávamos daquele cara. Nós fomos lá e, enquanto a gente não tirou ele dos Beatniks, a gente não sossegou. Nosso baixista era o Neno e a gente esperava que ele desse uma escorregada, pra ter motivo... Mas é claro que o Mingo merece muito crédito na história do conjunto, ele foi o responsável pelo início do conjunto. Ele saiu dos Jordans pra montar os Clevers, e durante bastante muito tempo ele foi o nosso líder. Quando virou Incríveis, ele começou a largar um pouquinho... porque ele era muito italiano e ele queria puxar a gente muito mais pra música italiana. Mas a nossa maior influência eram The Shadows e The Ventures, principalmente The Ventures. O grupo era todo instrumental, e aí o Mingo fez uma música e botou no primeiro disco. Tudo era baseado no Manito, a gente fazia as guitarras em cima dos Ventures. A gente regravou quase todos os hits deles. Os Jordans é que eram mais Shadows.

Vocês tiveram uma grande presença na cena paulista dos anos 60.

Netinho - Nós inauguramos a maioria dos clubes do Estado de São Paulo, porque foi na década de 60 que se construiu quase tudo - com aqueles palquinhos, luzinha etc. A gente também inaugurou o Geraldão em Recife. Às vezes a gente chega pra tocar em Araçatuba e tem lá uma placa pra nos lembrar dissos. As fichas vão caindo na medida em que você continua na carreira, né?

Como foi a virada dos anos 70 pra vocês, em termos de formação da banda?

Nenê - Na minha opinião, vê se eu tô falando certo, é que cada um de nós já estava com preferências musicais diversas. Por exemplo, como o Netinho falou agora há pouco, o Mingo gostava muito de música italiana. Risonho gostava de música melódica, enquanto o Netinho já estava indo pro rock inglês e o Manito estava querendo fazer rock progressivo. E eu tava com a negada da Motown, né? Então a filosofia do grupo já estava se dissolvendo...

Netinho - ... e continuava aquele nosso problema com empresário. Nós sempre tivemos essa coisa e a gente tava sendo consumido demais, a gente reclamava muito de trabalhar muito e pagar um percentual muito forte. Porque nós tínhamos um escritório com 15 pessoas em São Paulo, nossa equipe era muito grande e no fim sobrava pouco... e todo mundo já estava com o saco cheio disso também.

Nenê - Chegou uma hora em que, como todo grupo, a gente enjoou. A verdade é essa.

Fazer o download de Os Incríveis - Les Increibles (1965).

Wednesday, March 12, 2008

Karma - Karma (1972)




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Faixas:
01. Do Zero Adiante
02. Blusa de Linho
03. Você Pode Ir Além
04. Epílogo
05. Tributo ao Sorriso
06. O Jogo
07. Omissão
08. Venha Pisar na Grama
09. Transe Uma
10. Cara e Coroa



Esquecido num sítio na periferia do Rio, o compositor, guitarrista e fundador de O Terço e do Karma, Jorge Amiden, tenta recuperar a saúde abalada pelo uso de drogas e das (pouquíssimas) viagens que fez com LSD no início dos anos 1970. "Foram muito boas, mas custei a voltar delas", diz o nosso afável Syd Barrett. Jorge é o compositor da inesquecível 'Tributo ao Sorriso' (em parceria com Hinds) e de tantas outras canções geniais do repertório de O Terço (1970 a 1971) e do Karma (1972). Era ele o principal arquiteto dos vocais harmoniosos de ambas as bandas. Além do mais, gravou um antológico LP com o Karma, participou do disco 'Sonhos e Memórias' de Erasmo Carlos e integrou a banda de Milton Nascimento. Depois, com o cérebro golpeado, se afastou dos palcos. Seguiu-se, então, um longo e indesejável ostracismo. Mas Jorge quer voltar, quer a música "viva" de volta a sua vida. E nós, órfãos de sua brilhante musicalidade, torcemos para que ele encontre o fio da meada, a luz no fim do túnel, a glória de um final fez.

Após romper com O terço, Amiden logo encontrou novos parceiros. Com Luiz Mendes Junior (violão e vocal) e Alen Cazinho Terra (baixo e vocal), irmão de Renato Terra, o guitarrista daria início a sua trajetória de pouco mais de um ano como líder do Karma. Ramalho Neto, da RCA, não teve dúvidas em contratar a banda antes mesmo de ouví-la. Reconhecia o talento de Amiden e antevia um belo disco do Karma para a RCA.

E foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, a RCA distribuía na praça o LP homônimo do Karma, uma obra antológica que merece constar de qualquer lista dos melhores discos da história do rock brasileiro. Com uma sonoridade predominantemente acústica servindo de base para a primorosa vocalização do trio, 'Karma' é recheado de canções brilhantes, como 'Do Zero Adiante' (Amiden e Mendes Junior), 'Blusa de Linho' (Amiden e Rodrix) e a revisitada 'Tributo Ao Sorriso' (Amiden e Hinds). Esta, levada quase até seu final em a capela, servia para realçar ainda mais a força vocal do conjunto. Vale destacar a participação do baterista Gustavo Schroeter (então integrante da Bolha), que ajudou a abrilhantar o disco com sua batida sempre consistente, arrojada e precisa.

E foi com Gustavo na bateria que o Karma fez o show de lançamento do disco no Grajaú Tênis Clube. Lamentavelmente, este pequeno tesouro concebido por Amiden jamais foi reeditado. Possivelmente hiberna nos arquivos da RCA desde o seu lançamento, em 1972, como hibernam tantas outras obras importantes nos arquivos das gravadoras brasileiras.

Em sua curta vigência sob a liderança de Amiden, o Karma ainda participou do VII Festival Internacional da Canção Popular, em setembro de 1972. Foi quando defendeu 'Depois do Portão' (Amiden e Mendes Junior). Em 1973, nos primeiros meses do ano, durante um show no Clube de Regatas Icaraí, em Niterói, depois de misturar bebida com drogas, Amiden perde o controle do próprio cérebro. O solo de guitarra parece interminável... Depois, sentado à beira da praia com Mário, se perde em plano existencial paralelo, vagando inseguro e solitário pelo lado escuro da lua.
Jorge só encontra a saída do enovelado e desconhecido labirinto no dia seguinte, quando percebe que o mundo não é mais o mesmo, o Karma não é mais o mesmo, a música não é mais a mesma...E nem sua vida seria mais a mesma. Dos palcos, se afasta...para na calma do tempo, quem sabe uma luz como guia, em dado momento, conceda algum dia seu retorno sereno.

Texto de Nélio Rodrigues, publicado originalmente no blog SomBarato

Fazer o download de Karma - Karma (1972).