Sunday, April 03, 2011
Fuzzfaces - Voodoo Hits (2003)
DOWNLOAD!
Faixas:
01. Fita K7
02. Voodoo Hits
03. Cry in the Night
04. Hospício
05. Peste
06. Don't Tread on Me
07. So Nesse Caixão
08. Vendi a Rickenbaker (Com muito gosto)
09. Be a Caveman
10. Autêntico Selvagem
11. Um Cara Normal
12. Eu Já Nem Sei
13. Lie Detector
Hoje em dia um sujeito liga a distorção da guitarra, grita “yeah” e se diz garage; outro bebe vodka vagabunda pura e diz a mesma coisa; pedem carona e se dizem garage; matam uma barata e se dizem garage; roubam laranja na feira e se dizem garage... É a banalização total de um gênero que nasceu das entranhas mais pavorosas da década sixtie. Caras que mal sabiam afinar, que sonhavam com um pedal fuzz e um órgão farfisa e vestiam a rebeldia sonora em seu estado máximo de demência.
Se há um grupo brasileiro hoje que honra estes pioneiros selvagens, este é o FuzzFaces, nascido das entranhas mais pavorosas da zona leste paulistana.
“Ontem era um cara normal, escutou FuzzFaces e se deu mal!”
O grupo começou a tocar o horror em 2000, quando Gregor Izidro (bateria e vocal), Andréia Crispim (baixo) e Wagner “Fuzz” Tal (guitarra) saíram dos Espectros (outro fiel representante da hierarquia garage paulistana, ainda do tempo das fitinhas k-7) e resolveram partir para um som mais autoral. Os shows ensandecidos, com direito a versões para pauladas de Fuzztones, Undertone e Mummies, logo chamaram atenção de muita gente, e garantiram à banda um grande destaque dentro da efervescente cena garage da zona leste de Sampa, nessa época conhecida como “Tropitralha”.
O primeiro rebento foi o EP Nós Não Estamos Nem aí, de 2001, com cinco músicas sensacionais, cheias de fuzz e levadas alucinadas. Um dos grandes diferenciais da banda é a presença do vocalista/baterista Gregor Izidro (são poucos os bateras do mundo que conseguem tocar uma música dos Sonics e soltar aqueles berros ao mesmo tempo). Uma vinheta retirada do raríssimo filme brasileiro “Se Meu Dólar Falasse”, de 1970 - com a voz chapada de Grande Otelo afirmando “depois daquela festinha de ontem, agora eu sou é hippie!” - introduz a já clássica “A Menina do Corcel Vermelho”, que versa sobre uma moça jurada de morte por traficantes. Uma verdadeira crônica de um episódio comum a qualquer periferia do país. Já as outras canções do EP apresentam o lado mais drogado da banda, mas nada de viagens bonitinhas... O que surge são bad trips furiosas e desencontros carregados de ácido. As incríveis “Agora Não Tem Volta”, “Caminhos Cruzados” e “Um Milhão de Anos Luz” acertam o pulo em imagens como “o relógio marcando a hora para trás”. O EP termina com outra vinheta sensacional do “Se Meu Dólar Falasse”, com direito a uma ceia recheada de bolinho de LSD, coquetel de ácido lisérgico, cocada de cocaína, estrogonofe de barbitúrico e marijuana à grega. U-hu!
Depois desse lançamento, o FuzzFaces caiu na estrada e realizou shows memoráveis em vários cantos do Brasil. Brasília, Florianópolis e Rio de Janeiro, entre outras cidades, foram a loucura com a performance anfetaminada dos caras. O segundo lançamento foi o cd Voodoo Hits, de 2003. A temática drogada do EP deu lugar a um legítimo terror brasileiro. As letras do disco, quase todas de Wagner “Fuzz” Tal, poderiam ser roteiros de ótimos filmes de horror. Em “Fita K-7”, há um sujeito que vendeu a alma pro diabo para escutar uma fitinha com sons obscuros, já “Hospício” é um fiel retrato dos tenebrosos manicômios do nosso país. Se a faixa-título traz a história de um cara que fez magia negra para ressuscitar a noiva que, que mesmo com a pele azul e fria se decompondo, satisfez seu amor; “Só Neste Caixão”, voz de Walter Chinaski (do Laboratório SP), assombra com um rapaz completamente apaixonado por uma jovem vampira. O lado negro das drogas volta em “Um Autêntico Selvagem”, de sonoridade tribal sobre a agonia de um sujeito que tomou chá de cogumelo e regrediu até à idade das pedras. O lado mais autoral do grupo surge nos hinos “Um Cara Normal” e “Vendi a Rickenbacker”. Nessas duas músicas, fica claro que para ser um FuzzFace, o ideal é usar bijuteria feita de ossos humanos e cabelo cortado feito casco de tartaruga, além de nunca trocar uma Vox por qualquer outra guitarra. No cd, ainda há excelentes versões para pérolas obscuras de The Avengers, Billy Childish e Q65, entre outras. Uma obra-prima do garage rock brasileiro.
“Chesterfield, The Jam e The Who usavam... Mas eu prefiro a guitarra que os Fuzztones arrebentavam”
Continuando com a mesma pegada, o FuzzFaces pagou tributo a dois de seus grandes heróis. No cd argentino Here Aren´t The Sonics, dedicado ao demente e pioneiro grupo de Seattle, gravaram “I´m Going Home”. O Fuzztones também ganhou homenagem com a sensacional “Action Speaks Louder Than Words”, para o tributo Illegitimate Spawn, organizado pelo próprio líder do grupo Rudi Protrudi. Para 2007, a banda promete algumas novidades; dois discos, um com músicas inéditas – entre elas as já conhecidas de shows “Lobisomem” e “Quarto Escuro” - e outro de versões para hinos obscuros tirados de coletâneas como Peebles e Back From The Grave, além de um compacto duplo em vinil com regravações de canções da pouco valorizada garagem sixtie brasileira. Estas gravações terão a presença do novo integrante Sir Uly, o ser psicodélico responsável pelos órgãos.
Da zona leste de Sampa para o mundo. O FuzzFaces mantém acesa a chama dos loucos admiradores de um som visceral carregado de fuzz. Porque o que o rock garageiro atual do Brasil precisa, eles têm de sobra: autenticidade e selvageria.
Texto de Leonardo Bomfim, publicado originalmente na revista virtual The Freakium!
Fazer o download de Fuzzfaces - Voodoo Hits (2003).
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
7 comments:
Gostei da novidade no blog.
Normalmente vc posta artistas dos anos 60,70,80... mas dessa vez vc postou algo dos anos 00.
Bem que vc podia postar mais dessas bandas undergrounds! o/
melhor blog de música que eu conheço!
continue postando raridades (não só dos anos 60,70 e tals...), adoro conhecer novas bandas.
bem que vc poderia postar alguma coisa do ave sangria, uma banda dos 70.
abraço
Fuzzfaces é simplesmente sensacional.
Em minha opinião, neste álbum não tem tema ruim! Pedrada atrás de pedrada...
A quem não conhece, recomendo: baixe, escute e curta AGORA MESMO!
Um abraço.
eu achei essa banda boa pra caralho!
quando vai ter show em curitiba?
eu achei essa banda boa pra caralho! quando vai ter show em curitiba?
o stereo desse álbum é muito bom!
Bom ver o psicodelismo través. Quero dizer já tinha comentado (bom se não tinha pensei em faze-lo com veemencia hehehe)sobre ver a psicodelia de forma mais uptodate até porque naum :) ha nada de novo sob o sol e se tinha gente boa antes, continua tendo depois... Não sei se é o caso, mas vou ver (to de ferias, tempo para lubrificar ouvidos de interiorrrrrr cruel)
Post a Comment