Wednesday, January 03, 2007

Tom Zé - Tom Zé (1968)




DOWNLOAD!


Faixas:
01. São São Paulo
02. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho de Portão
04. Catecismo, Creme Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneiras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada e Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burrice



Parque Industrial ou Satyricon de Tom Zé

Este disco é uma preciosidade. Seu relançamento deve ser festejado como a descoberta de um tesouro - senão perdido - esquecido; enterrado e abandonado. Injusta e injustificadamente abandonado. E no entanto, trata-se de uma obra-prima - e primeira - de um criador singular, esse mestre de invenções e intervenções artísticas chamado Tom Zé. Um disco digno de ser enfim reconhecido como representativo do tropicalismo, assim como os demais, conhecidos, do movimento: os individuais de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes, além do coletivo.

Da companhia destes, "Tom Zé" havia sido alijado, ao sair de circulação. Como eles, foi gravado, em 1968, sob o signo da revolução e da liberdade criativa. Suas composições expõem as marcas - tipicamente tropicalistas - da surpresa e do sincretismo. Compassos se alternam, dão-se mudanças às vezes radicais de andamento. Estruturas por colagem e/ou montagem, as canções, fracionadas, misturam ritmos (exemplo: iê-iê-iê e música sertaneja, em "Sabor de Burrice), instaurando inesperadas atmosferas em uma mesma faixa. Tudo ilustrado paralelamente pelos arranjos.

Estes desempanham palel fundamental no encontro entre música popular e erudita contemporânea que o disco promove. Criados por Damiano Cozzela e Sandino Hohagen, maestros do grupo música nova, combinam elementos díspares - do folclore ao rock - num trabalho ao mesmo tempo antenado com a vanguarda e enraizado na tradição. As instumentações são inusuais. Um arsenal de ruídos - sinos, buzinas, despertadores - e sons variados - aleatórios, de fanfarras, etc - é convocado. Incorporam-se cacos, acasos, erros, além de narrações, conversas e discursos, sem contar vocais onomatopéicos. Resultado: cada faixa se torna um acontecimento sonoro-musical.

Mais relevante ainda talvez seja a forma como os arranjos se relacionam com as letras, como replicam às suas instigações, criando os climas por elas requeridos. Examine-se um detalhe de "Sem Entrada e Sem Mais Nada", por exemplo. Num dado trecho, acordes deliberadamente cafonas são tocados para comentar a expressão "cinco letras que choram", verso que, na canção, está se referindo a "FIADO" e também parodiando (no nível melódico inclusive) um antigo sucesso homônimo de Francisco Alves, co-intituladao "Adeus".

Importante, a propósito das citações, é que elas são sempre pertinentes, nunca gratuitas. E, mais do que serem várias, chama a atenção o leque de sua livre diversidade: do samba "Upa Neguinho" (em "Quero Sambar, Meu Bem") ao hino "Deus Salve a América" (na introdução de "Parque Industrial"), de "Cai, Cai, Balão" ao iê-iê-iê brega "Bom Rapaz" (em "Namorinho de Portão").

No centro de tudo, encontra-se naturalmente Tom Zé, singularizando-se já por suas qualidades de cantor - cujas interpretações assinalam, inteligentemente, o tom paródico e/ou irônico dos textos. De compositor - com uma formação sofisticada para um autor de canções à época, revelando conhecimentos hauridos no campo erudito. De músico - aberto a experimentações. De artista - com proposta e postura nova e ousada. De letrista - de versos provocativos, gozativos, satiricamente críticos.

Mais intensamente do que os damais poetas do tropicalismo - Caetano, Gil , Capinan e Torquato Neto -, Tom Zé usa e abusa de uma linguagem carregada de mordacidade e de tipo coloquial-irônico. Nesse sentido, ele foi o Tristan Corbiére do movimento. Como resistir ao humor de versos como: "Entrei na liquidação/ Saí quase liquidado"? ou a estes, desconcertantes: "Pois um anjo do cinema/ já revelou que o futuro/ da família brasileira/ será o hálito puro,.../Ah"!? ou à força do refrão de "Glória"? E há aqueles ainda que fazem uma declaração de princípios poéticos, valendo por um lema estético a ser seguido: "Quero sambar meu bem/ (...)/ Não quero é vender flores nem saudade perfumada/ (...) / Mas eu não quero andar na fossa/ cultivando tradição embalsamada".

Nodisco, não há uma só música que não seja característicamente crítica. Nem "São São Paulo, Meu Amor" - ode? - escapa a isso. E a vei satírica de Tom Zé investe implacavelmente contra vários alvos. Eis alguns deles. O capitalismo, na imagem do homem de negócios (em "Não Buzine que Eu Estou Paquerando"). A burguesia, ridicularizada em sua moral, seus hábitos e aspirações, na figura do chefe de família ("Glória"). A sociedade de consumo e as imagens-símbolo, publicitárias, do consumo ("Catecismo, Creme Dental e Eu" e "Parque Industrial"). As convenções, sociais e comportamentais ("Curso Intensivo de Boas Maneiras"), bem como as linguísticas ("Sabor de Burrice"): nesse último caso, a própria letra assume um discurso retórico-acadêmico, num emprego consciente do mau gosto para efeito crítico.

Em suma, o que Tom Zé não poupa é o limitado horizonte espiritual de sistemas e estilo de vida vazios e, com estes, seus praticantes. Tais fatores de fundo, aliado aos componentes formais do disco, colaboram para fazer dele uma obra audaciosa e desafiadora, de alguém que reúne senso crítico e estético ; um homem sertanejo de origem e forte de caráter, que se tornou um artista urbano e moderno (e que assim, acabou fazendo a "ligação direta [...] entre o rural e o experimental" para lembrar as palavras de Caetano sobre ele em "Verdade Tropical").

Agora, o Brasil passa a dispor, finalmente em CD, de mais um trabalho seu a servir de informação cultural qualitativa para as novas gerações. E os norte-americanos, os jovens em especial, já poderão contar com a referência de mais uma "nova" obra de relevo da escola de vanguarda que. para alguns deles, o tropicalismo se tornou.

Texto de Carlos Rennó, encartado no relançamento em CD.

Fazer o download de Tom Zé - Tom Zé (1968).

42 comments:

Phil said...

thanks for this - his early stuff is hard to find. to my slightly avant leaning ears, tom ze is easily the best recording artist to come out of brazil and one of the greatest recording artists of all time. just listen to the fabulous weirdness of his last 2 records. thanks again.

Anonymous said...

as letras desse disco são sensacionais

Peracoli, um detalhe de nada: como alguns discos postados aqui vem sem 'tags', o player só mostra 'artist' e 'track01'...

Como editar os nominhos de diversos artistas, títulos e albuns é um pé, se tiver a fim, dê uma olhada nesse software espetacular que faz diversas renomeações automáticas - a partir dos critérios que vc especifica - de discotecas mp3.

http://www.cyberpunk.gr/tgf/

Abçs!

Anonymous said...

Só tenho a te agradecer. Mesmo assim vou ver se consigo encontrar esta pérola em cd.
Obrigado.
Abração.

Jimi said...

Esse Tom Zé é doido de carteirinha, às vezes meio chato mas sempre original...valeu pelo post!!!

Anonymous said...

Vou aqui destoar do "coro dos contentes", que vivem a glorificar o Tropicalismo como se fosse a salvação da pátria. Foi importante para agitar as idéias? Foi, mas musicalmente os discos do grupo são muito chatos, muitas vezes irritantes porque ficam nessa de fazer colagem, sátira, gozação, e no final não sobra quase nada de música que dê prazer à audição. Desse Tom Zé 68, por exemplo, salva-se uma faixa, e olhe lá.
E de Os Brasões, Claudette Soares, Marília Medalha, Cyro Aguiar etc, que também fizeram discos "tropicalistas" (bem legais por sinal) ninguém fala. Só há espaço para Caetano, Tom Zé, Caetano, Gil, Caetano, Gal, Caetano...

stimmenimitator said...

I have just found your site and downloaded some stuff. I know very little about brazilian music beyond the usual suspects of the Tropicalia and Bossa Nova movement. It is so great to discover music, which sounds so new to me. I especially liked Manduka and Jards Macalé. THANK YOU VERY MUCH for that.

Anonymous said...

Thanks so much for posting this!
I know some things about Tropicalia but would like to know more about the best Brazilian avantgarde rock recordings of the 1970s. Please advise on which records you especially endorse for out there electronic weirdness. I can use Babelfish to translate but would also appreciate your guidance. Thanks!

[de lima] said...

eu concordo com o kléssius leão, simpatizo da sua idéia, porque a mídia escreve a história de maneira torta. que mais lhe interessa. tem muita coisa tropicalista, que foge dos arautos da música [gil, caetano, gal, mutantes...].

de qualquer maneira, os discos tropicalista precisam ser ouvidos dentro do contexto.
são ótimos também.
aquele [abraço]
fabrício

zuil said...

Sei que empoucas coisas posso dizer isso
Ad comentarium:
Oh me pindura na corrente rente rente rente!!

Ricardo Boi said...

Pessoal, detesto usar este espaço pra divulgação, mas, como este é um dos blogs que eu mais pego discos, eu abri um: PERSPIRAÇÕES BOVINAS. Meu primeiro post é um vídeo do EGBERTO GISMONTI!
Colocarei discos também...
Obrigado, desculpem o mau uso!

perbovi.blogspot.com

Ricardo Boi said...

Guys, sorry to use this space in a bad manner, but since this is a blog on wich i mostly download stuff, i made one of my own: PERSPIRAÇÕES BOVINAS (that would be BOVINE PERSPIRATIONS). I'll put mp3 albums and videos! My first post is an EGBERTO GISMONTI video!
Thanks, and sorry for the bad use of this space!

perbovi.blogspot.com

Anonymous said...

"musicalidade" é uma coisa bem relativa meu caro kléssius leão,os valores vão mudando e com isso o significado de "arte", "musicalidade" e "genialidade" tb. o tropicalismo foi e é um movimento de muita qualidade e sobre dar prazer ao escutar, eu e muitas pessoas sentimos.concordo com vc quando vc diz que existem muitos grupos ótimos que são pouco falados.

Anonymous said...

hi...can you upload something of BRAZILIAN BEATLES???


thanks!!!!!

Anonymous said...

hello, i really love your blog. keep it up!
regards, isaac

Anonymous said...

Só para contextualizar: 2 grupos acompanham tom Zé neste disco - Os versáteis e os Brazões. infelizmente, esta primeira banda parece não ter lançado um disco próprio, infelizmente.

Marília Medalha, em seu disco "tropicalista", fez 2 releituras de músicas deste disco: "São, São Paulo" e "Glória". Grande vozeirão o dela.

Achei legal ter colocado este disco disponível mas não custa lembrar que rola por aí a versão em CD dele.

outra coisa: charles gavin foi responsável pelo relançamento de outros clássicos como o "Ferro na Boneca", dos Novos Baianos, e o disco dos Brazões. Vale a pena comprar.

Anonymous said...

kléssius, se não me engano o Fábio colocou o disco dos brazões aqui já, d~e uma procurada no histórico. É uma grande banda e que, diga-se, acompanhou Tom Zé neste disco que aí está.

Zaratustra said...

os psicodélicos mofados com teias de aranhas nas entranhas algum dia se encontrarão no lado escuro da lua

fantástico seu blog!
maravilha

Anonymous said...

Para mim, Tom Zé é o único que presta na tropicalia!

Anonymous said...

Parabéns pelo blog!
Pedido: Posta alguma coisa do Itamar Assumpção!
Abraços!

Anonymous said...

cara, não consigo dar download do CD... como faço???

Anonymous said...

What a site! Glad to have found this. Love from Liverpool, UK.

Anonymous said...

What a site! Glad to have found this. Love from Liverpool, UK.

Anonymous said...

Sempre detestei ( e ainda detesto) caetano veloso ( as minúsculas não foram por lapso), gosto um pouco de Gil e adoro Mutantes. Num ponto concordo com o Klessius e dubem: a história da tropicália foi e é muito manipulada, tem que desconfiar de certas "verdades" que nos enfiam goela abaixo. Ouvir o primeiro disco de Tom Zé ( eu conhecia pouco dele) torna isso claro. algumas músicas são realmente simples colagens engraçadinhas, mas no todo é uma grande obra.

Anonymous said...

Tom Zé é certamente o maior filho da puta que surgiu na decada de 60... atualmente ele grava e toca para filhos da puta que dizem que essa merda toda é musica.
Me ajuda ai meu!!!

Anonymous said...

Você não vai publicar os comentarios???
Vai tomar a mesma atitude da Globo, Folha, Estadão, O Globo ou seja editar , distorcer e ocultar???
Então enfia o teu blog no teu cú moleque!!!

Anonymous said...

Olá parabéns pelo belo site dedicado ao melhor da música brasileira.Gostaria de fazer um pedido:será que haveria possibilidade de você postar alguns singles da banda Os Baobás como a versão "Pintada de Preto" (Paint It Black dos Rolling Stones)?Desde já agradeço.

Anonymous said...

opa, tudo bem? vc tem algo da banda copa 7 ou grupo arembepe? um abraço

By Clau said...

Seria muito pra cabeça: "um cara que nunca passou por aqui, e quando passa já faz um pedido", na minha cidade diriam assim "ô sujeito manso!!!".
Mas o fato é que além de adorar o seu blog, eu encontrei um vinil que há anos venho procurando e o link já expirou, na época eu marquei touca e não comprei o mesmo. Sendo assim agradeceria muito se vc postasse outra vez o Vinil da OLIVIA BYINGTON - CORRA O RISCO. Ficaria eternamente grato.
desde já obrigado.
Fique com Deus e parabéns pelo blog!

H9 said...

Bom, antes de mais nada, PARABÉNS pelo excelente trabalho... O blog é excelente. Eu o descobri há um ou dois dias e já virei freguês de carteirinha. Aproveito para um pedido especial: lá no seu primeiro mês de postagem há (havia) o disco "Satwa" (1973), de Lula Côrtes & Lailson. Só que o link está dando "file not found". Dá pé de disponibilizar de novo?
Grato!!!
Haddock9

Anonymous said...

Eu achava que a banda "Os Versáteis", que acompanhou Tom Zé neste disco, em algumas faixas, nunca tivessem lançado um trabalho próprio. Mas me enganei:

http://www.jovemguarda.com.br/discografia-versateis.php

Ricardo Meirelles said...

um amigo do meu irmão mais velho me emprestou o 'tropicalia' pra ouvir, e vi que tem muita coisa desse cara, vou procurar ouvir mais coisas. mas já gostei bastante.

Anonymous said...

Turboupload says "File don't exist"
Any repost possible, I'am hardly looking for this LP !
Thank You

Unknown said...

Could you please repost this album?

Regards,
Even

Delfin said...

O arquivo foi deletado. Vocês podem corrigir o link?

Obrigado!

fperacoli said...

Subi o arquivo novamente.
Continuem reportando links quebrados.

Anonymous said...

THANKS! GREAT blog!!!!!

Anonymous said...

A ONU devia declarar esse disco Patrimonio da Humanidade

Simon said...

Gracias mi hermano (lo siento pero no tengo portugues - y espero que la gente puede entender español!) Estoy entendido este disco ahora y... No sé... Estoy un gran fan de su musica. He lo visto con Tortoise en Londres hace 5 años, y me gusta mucho todo que he ya entendido - sobre todo los obras mas recente. Pero ese disco me parece un poco... Zappa-esque... Un poco San Francisco 1969 via Sao Paolo. Interesante, pero claramente antes de su obra mas interesante. Pero, claro que no puedo entendir los palabras, y asi estoy perdiendo un cosa muy interesante de la musica....
Habiendo dicho todo esto, muchos gracias de habiendo dado este archivo tan interesante a nostotros todos!
Muchos gracias y hola de Irlanda!

Eli Carlos Vieira said...

Muito bom post!
Assiti Tom Zé no Teatro Municipal (3/5/9), na Virada Cultural de São Paulo!
Loucão!

Abraço a todos!

Anonymous said...

Ótimo blog!!!!

já virei freguesa...

Sim, a mídia distorce, manipula e é parcial..
Agora duvidar de Caetano é exagero... o Tropicalismo nunca foi um movimento de ruptura política! É essencialmente cultural! E qto a isso Caetano, Gil, Caetano, Gal, Caetano fizeram a revolução! O camlhambeque do burguês perdeu espaço!

Abraço a todos!

Anonymous said...

el link de tom ze no funcina

fperacoli said...

LINK finalmente corrigido. Obrigado pelo interesse e paciência.