Thursday, March 30, 2006
Guilherme Lamounier - Guilherme Lamounier (1973)
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Faixas:
01. Mini Neila
02. GB em Alto Relevo
03. Patrícia
04. Telhados do Mundo
05. Freedom
06. Capitão de Papel
07. Amanha Não Sei
08. Será que Eu Pus um Grilo na sua Cabeça?
09. Passam Anos, Passam Anas
10. Cabeça Feita
O COMPOSITOR CARIOCA Guilherme Lamounier é um nome tão pouco lembrado que nem teve tempo de se tornar uma "lenda" - raras vezes seu nome foi mencionado em revistas de música e o disco em questão seria bem pouco citado, apesar de ser uma obra-prima do pop nacional. Seus maiores sucessos, "Enrosca" e "Seu melhor amigo", foram eternizados por um cantor cujo nome já afasta fâs de pop-rock: Fábio Jr. ("Enrosca" também foi gravado por... bem... Sandy & Junior). Seu papel durante os anos 70 acabou restrito, em vários momentos, aos bastidores - ele compôs outras inúmeras canções, numa linha que trafegava entre o rock, a MPB e a soul music nativa, que acabariam gravadas por Zizi Possi, Rosa Maria, Roupa Nova, Frenéticas, Jane Duboc e outros. Também responsabilizou-se por vários temas de novelas globais, além de trabalhar ao lado da dupla Robson Jorge & Lincoln Olivetti em várias empreitadas.
Guilherme vinha de família de músicos: o avô, Gastão Lamounier, era compositor e o primo, Gastão Lamounier Junior, também tornou-se compositor e músico, trabalhando com Erasmo Carlos, Banda Black Rio, grupo Karma e vários outros ("Tem que ser agora", gravada por Pedro Mariano em 2000, é de Gastão e Luiz Mendes Junior). Outro primo famoso era Ricardo Lamounier, DJ da boate setentista New York City Discothéque. Antes de Guilherme Lamounier, Guilherme já havia gravado um outro disco, hoje também obscuro, pela Odeon - lançado em 1970 com produção de Carlos Imperial e participação de Dom Salvador e Maestro Cipó, o disco é definido por um site de venda de discos raros como "uma versão crua e rude de Wilson Simonal", contendo "funks pesados" como "Cristina" e "A casa onde ela mora". O álbum de 1973, um dos raros discos nacionais lançados pelo selo Atco, da WEA - que era representada no Brasil pela Continental, durante os anos 70 - pode ser definido como um feliz encontro entre folk, pop, rock (pesado em alguns momentos) e o acento soul que marcaria praticamente tudo feito por Guilherme. Era uma coleção de 10 belas melodias que, ouvidas hoje, dão pena por quase não terem freqüentado as rádios. De lá para cá, este disco jamais seria reeditado.
Guilherme Lamounier foi fruto de uma parceria entre o cantor e Tibério Gaspar, que assinou as letras de todas as músicas - as fotos do encarte, sempre trazendo a dupla, dão a entender que Tibério, mais conhecido por suas parcerias com Antonio Adolfo ("Sá Marina", "Juliana") foi fundamental para o desenvolvimento do álbum. Tocado ao violão e ao piano, com discretas guitarras, o disco abria com uma balada quase Beatle, "Mini-Neila". A melodia, de matar Noel Gallagher de inveja, era acentuada pelo belo arranjo de cordas - creditado, no encarte, a um tal de Luiz Claudio - e completada por um belo refrão, um dos melhores do disco. Depois vinha o som folk e viajante de "GB em alto relevo", uma melodia cheia de surpresas e de acordes escondidos, que mostram a excelência de Lamounier como artesão pop. "Patrícia", outra balada folk, entra no álbum lembrando Lô Borges e traz uma letra cheia de imagens fortes, sexuais. "Os telhados do mundo" é quase progressiva, trazendo percussão, efeitos sonoros, guitarras, órgão e uma letra psicodélica, libertária ("não me interessa saber o que vocês pensam de mim por aí/só interessa saber quem sou ou o que não sou por aqui"). Todas as letras do álbum oscilavam entre o romantismo e uma espécie temática jovem dos anos 70, com imagens de teor quase hippie.
Bem distante do tal "Wilson Simonal cru" do primeiro disco, Guilherme cantava de uma forma quase black, alternando tons rockeiros com vocais roucos e gritados, lembrando por vezes uma versão carioca de Arnaldo Baptista (com quem até se parecia fisicamente). Esse modo de cantar aparecia em músicas como "Freedom", soul acústico pesadíssimo, com linhas de baixo vigorosas e um forte trabalho de metais, quase lembrando uma trilha de filme. Ou mesmo em "Cabeça feita", hard rock doidaralhaço que, dois anos depois, seria gravado pelo grupo carioca O Peso - e que fechava o disco com guitarras na cara do ouvinte e uma letra bandeirosa e libertária. O disco ainda trazia baladas com um pé no soul, como "Capitão de papel" (cuja letra, bem anos 70, citava personagens de histórias em quadrinhos) e a belíssima "Amanhã não sei", conduzida por violão, piano e órgão Hammond e explodindo em um forte arranjo de cordas no final. Completando, ainda havia a curiosa "Será que eu pus um grilo na sua cabeça?" - balada hippie com letra bucólica e romântica, que não citava em momento algum o longo nome da música - e a balada hard "Passam anos, passam anas", seis minutos de fazer os Black Crowes roerem os cotovelos de inveja (a música até lembra um pouco "Descending", do Amorica).
Na época de Guilherme Lamounier, o cantor já colaborava com músicas para trilhas de novelas - ele já havia gravado, na onda dos cantores brazucas que pagavam de inglês, o tema "What greater gift could there be" para a novela global O homem que deve morrer. Continuou assinando outros temas, como a disco-track sacana "Requebra que eu curto" (O pulo do gato, 1978) e até mesmo "Enrosca", cuja versão original era um pop-rock pesadinho (da novela Locomotivas, 1977). Guilherme também escreveu músicas para filmes dos anos 70, como a pornochanchada Cada um dá o que tem (de Carlo Mossy). Sua carreira discográfica é que permaneceu no pára-e-anda por um belo tempo. Ainda na Continental, Guilherme lançou um single com "Vai atrás da vida (que ela te espera)" e deu uma sumida, lançando apenas outros compactos. Em 1978 sairia outro Guilherme Lamounier, desta vez pela Som Livre - revelando "Serenatas perfumadas com jasmin", da trilha de Pecado rasgado.
De lá para cá, pouco se ouviria falar de Lamounier - a não ser por uma ou outra regravação. Seu ultimo disco sairia em 1983, um single com a zoada "Eu gosto é de fazer o que ela gosta". Pouco se sabe sobre a vida de Guilherme hoje, o que ele anda fazendo e se ainda trabalha - pesquisando na internet, é impossível achar informações sobre a vida dele e até mesmo o site Cliquemusic, que possui um bom material para pesquisa sobre MPB, não tem um verbete com o nome do cantor. As fofocas e boatos sobre a vida de Lamounier se acumulam até entre alguns de seus antigos amigos, já que não há muita informação. E Guilherme Lamounier permanece inédito em CD, mesmo com os vários projetos que a WEA vem fazendo para reeditar discos do catálogo da gravadora Continental. Para quem quiser conhecer o álbum, há cópias em CD-R rolando por aí.
Texto de Ricardo Schott, publicado no site discotecabasica.com.
Fazer o download de Guilherme Lamounier - Guilherme Lamounier (1973).
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36 comments:
Bah! Muito legal esse blog! É muito engraçado, e gratificante, quando clico no "Next Blog" na barra do blogger e acabo me deparando com um blog cheio de conteúdo.
Pessoalmente não sou muito fã da psicodelia brasileira, mas é uma parte importante da história da música e da cultura nacional. Poderia acrescentar muito aos músicos atuais.
Muito bom mesmo esse blog. (:
Nossa fiquei muito feliz sobre a materia e o Download, Grilherme
Lamounier grande Musico da Historia
Brasileira.Seu Melhor Amigo e inesquecivel e representa muito pra min, se acaso conseguir coloque ai ficarei muito grato.
Abraco e bom trabalho.
Zyx.
obrigado pela publicação do texto e pelo crédito. só corrigindo um erinho que eu mesmo cometi: "serenatas..." é da trilha de marron glacê.
num contato por e-mail, charles gavin disse que vão sair mais cds da série som livre masters e que pode ser que o lamounier de 78 esteja entre eles. segundo ele, o guilherme tem MUITO material do acervo da odeon - inclusive um single que fez muito sucesso em 1982, "orquestra divina".
tenho aqui uma coletânea de singles do guilherme e o primeiro lp dele, em mp3. posso enviar por e-mail. escrevam-me em rschott2004@gmail.com
abç
Ricardo,
sou leitor assíduo do Discoteca Básica. Valeu pelo seu comentário.
Esse álbum é maravilhoso. Aliás, o artista é fantástico. Lamounier precisa mesmo ser resgatado, urgente. Tão talentoso quanto misterioso, anda muito esquecido pra qualidade da sua música.
Disco fantástico, sensibilidade poética de sobra e um jeito de lidar com as palavras que te deixa sentado ouvindo e vendo imagens. Música que nos trás imagens. Fuderoso!
"A beleza de Patrícia tá na malícia do olhar, tá no seu rosto de santa, tá na cadência do andar, na lindeza dos seus olhos amarrei o meu descanso..."
Como nunca tinha ouvido falar desse cara antes! SENSACIONAL!!!!!!! ABRAÇO A TODOS
"COM A CABEÇA FEITA PRA NAO DAR BANDEIRA A CABEÇA FEITA NAO MARCA BOBEIRA" precisa dizer mais???????
o guilherme lamounier vivia em petrópolis-rj e frequentava a loja de discos de um amigo meu. infelizmente faleceu a uns 4 anos atrás.
Anônimo,
não entendi se você falou que quem faleceu foi o dono da loja de discos ou o Lamonier, que ao que consta, é vivo ainda (quem morreu foi o Gastão Lamounier, primo dele).
Olá a todos!!! Sou irmão do Guilherme e posso garantir que ele está vivinho da silva. Mora com nossa mãe em copacabana e cheio de saúde. Infelizmente um grande artista esquecido pela mídia. Mas, quem sabe esse quadro não muda com os relançamentos de suas obras??? Abraços para todos e valeu!!!!
demais esse disco! um dos melhores que (re)descobri aqui no seu site. adorei mesmo haha. abraço!
Para mim um dos melhores musicos que este país já teve , como cantor e compositor , foram regravadas algumas músicas por cantores como Fabio JR. que demonstra que mesmo um disco de vinil sem a capacidade técnica de hoje em dia , mostra a superioridade da voz de Guilherme, cantor esqueçido por muitos mais sempre lembrado pelo seu maior amigo .................
Putz! que legal encontrar algo do Guilherme. Este post foi feito há algum tempo, mas amei ler...
adoro as músicas dele e to aqui curtindo há alguns dias depois de ter reencontrado um cd dele, amo todas as músicas desse cd, como Capitão de Papel, Amanha Não Sei,
Telhados do Mundo, show demais!
Valeu a boa lembrança. Caramba, todo dia essa internet me surpreende.
Guilherme Lamounier eu conheci na casa do Tibério Gaspar, talvez ele não se lembre de mim, mas eu era vizinho do Tibério naquela vila maluca da Rua Assis Bueno em Botafogo. Diversas vezes tive o prazer de presenciar encontros inesquecíveis de Guilherme, Tim Maia, Antonio Adolfo, entre outros cantores e compositores, mas a voz do Guilherme, era impressionante, marcante, tão forte e marcante quanto a do Tim,quando eu digo forte e marcante eu falo com autoridade pois meus filhos eram recém-nascidos e minha casa era colada à casa do Tibério, onde o pessoal se reunia de madrugada. Quase sempre, para tentar acalmar minha mulher, eu ia até a casa do Tibério para pedir para o pessoal diminuir o som, mas eu acabava ficando por lá por diversas horas, em altos papos, para desespero de minha mulher que, cansada de me esperar e de cuidar das crianças, acabava por dormir apesar do som que rolava a noite toda. Bons tempos. Se me ler, abraços Guilherme.
Joviano Caiado
Eu,como toda Patricia que já ouviu "Patricia", me sinto honrada com letra tão poetica e música de arranjos perfeitos.
Guilherme, parabéns e muito obrigada.
Abraços,
Patricia Ramalho
Guilherme was a friend of mine in Rio back in 1976 when I was visiting with my family.
Not only is he a great songwriter and musician, but also a genuine and wonderful man.
After all of these years, I still think of him often.
Guilherme, if you ever look at these postings, this if from Denisey, in the USA, and still hear o toque do amor in my head to this day.
I have email.. write me.
denisepaulus@Msn.com
http://www.youtube.com/watch?v=5FCEYlMzj2E
Sou fa do Guilherme Lamonier , conheci a musica "Sera se pus um grilo em sua cabeca" pela radio, fazia um tempao que nao houvia ela mas recentemente encontrei ela no youtube.
A música "Será que eu pus um grilo na sua cabeça" chegou a tocar razoavelmente na rádio AM, acho que tocava mais na rádio Tamôio. Eu gostava muito dessa música na época (e ainda gosto). Esse disco é realmente fantástico.
Oi, primeiro quero agradecer pela grata surpresa de poder baixar o album completo, pois tive guardado este vinil desde 75 quando o comprei, gosto muito dele e alguns anos atrás o apresentei a um amigo que pediu emprestado para passar para mp3 e logo depois se mudou para londres, o disco, claro, se mudou com ele. É uma pena que não seja muito relembrado e valorizado, não só o disco mas o artista também, alto nível.
Enrosca... Ate hoje essa musica me da arrepios de tesao... Como e que o cara conseguiu traduzir tao bem quando comeca um amasso??
Sonhei acordada inumeras vezes ao som de Enrosca...
Enrosca... Hoje estou com mais de 40 e nunca esqueci dessa musica! Como e que o cara conseguiu traduzir tao bem como a gente sente no comeco de um amasso? Ate hoje essa cancao me arrepia! Ah, que saudade dos meus tempos de adolescente safada! Beijos mil para todos.
Levo seguindo teu blog hai tempo e este disco é realmente precioso, do millor que tes posteado, saúdos desde a Galicia
Em 1990 pedi esse vinil emprestado pra um tio meu e comigo ficou até hoje hehehe.
Já me disseram que esse disco, na verdade foi gravado em 69 ou 70 e ficou na geladeira por 3 anos, o que ressalta ainda mais o fato de ele estar a frente de muita coisa que era feita na época (e hoje, em alguns casos).
É, na minha opinião um dos melhores discos já lançados no país. Realmente uma pena não receber a atenção que deveria.
Abração!
Em 1973 as músicas Será que eu puz um grilo na sua cabeça ? e Amanhã na sei estouraram nas radios na cidade de Goiânia, onde eu vivia na época.Desde entãopassei a companhar a obra deste notável artista. Posteriormente regravei algumas de suas músicas com arranjos modificados.Um abraço
de Gerson.music.
É muito Ruim
O Gastão Lamounier é o compositor de "Bicho do Mato", gravada pelo Som Nosso de Cada Dia.
O citado Luis Cláudio, é o atual violonista e arranjador do Chico Buarque, cujo nome completo é Luis Cláudio Ramos, tremendo violonista!
Eu lembro como gostei desse disco na época. Na adolescência era raro eu curtir música brasileira. Tinha que ter um toque de pop/rock para eu gostar. E eu adorava esse LP. Só lamentei que o Guilherme não tenha dado continuidade a esse belo trabalho em parceria com Tibério Gaspar. Ele tinha tudo para ser um artista pop de sucesso semelhante ao de seu xará Guilherme Arantes, por exemplo.
Excelente trabalho. Espero que o Guilherme tenha a clara visão da obra que realizou. Fico perplexo quando vejo que um artista de tal quilate não tenha se destacado na mídia. Enfim só resta agradecer ao Guilherme e viajar pelas deliciosas melodias, apreciando as avenidas e as belas paisagens que se descortinam de seu belíssimo trabalho.
Parabéns Ghilherme Lamonier.
Inesquecível a música "Linda", do Guilherme e por ele contada..... Nunca mais soube dele e só espero que, em homenagem à sua obra, ele esteja bem, vivendo com saúde, em paz e felicidade.....
Obrigado pelas informações. Tambem queria saber dele.
Gostei pra caramba desse Blog, legal demais ler alguma coisa sobre o Guilherme Lamounier e de quebra, sobre Tibério Gaspar, Antônio Adolfo... O nosso país, infelizmente, não cultua seus grandes nomes, mas é bom saber que eles estão por ai.
Coloquei o nome do Guilherme no Google e logo me deparei com esse Blog. Fiquei muito feliz.
Parabéns!
Tony Marques
Tenho 47 anos e curti muito guilherme Lamounier,pena que na época tinha pouco acesso as mídias era só aquela coisa de rádios AM lembram? Mas erams felizes... rsrs
Amigo, só uma correção, o filme do Carlo Mossy cuja trilha ele compôs (a canção Liberdade, se não me engano) se chama "Com as Calças na Mão". O "Cada Um Dá o Que Tem" não é do Mossy.
Estive viciado neste álbum. Muito bom!!!
Desde que eu descobri esse disco e outros obscuros nesse site e em outros blogs, eu esperava que houvesse um revival de Lamounier e ele fosse redescoberto pela mídia, mas eu acho que definitivamente não era isso que ele queria, infelizmente ele morreu no dia 7 de agosto de 2018 tão desconhecido quanto antes, apenas com algumas notas da imprensa.
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