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Faixas:
01. Deus, a Natureza e a Música
02. Estrada Errada
03. Primeira Pessoa do Singular
04. Homem Passáro
05. Morte Doce
06. Prá Todo o Mundo Ficar Sabendo
07. Adoração
08. Cor de Maçã
09. Búzios
10. Sheila Guarany
11. O Boiadeiro
12. Pra Dizer Adeus
13. Taxi prá Bahia (bonus)
14. Palavras de Amor ao Vento (bonus)
15. Pelas Ruas de Los Angeles (bonus)
Deus, a natureza e a música, o segundo vinil de Hyldon (1976), é mais um daqueles casos de "disco secreto", lançado para cumprir contrato e sem divulgação. Hyldon, um dos três principais nomes do soul nacional (ao lado de Tim Maia e Cassiano), vinha de um sucesso estrondoso com o hit-single "Na rua, na chuva, na fazenda" e havia lançado um LP que, se não teve um grande sucesso, pelo menos projetou o nome do cara. Em briga com a gravadora após vários problemas no lançamento do primeiro disco - que quase não foi lançado porque a diretoria queria um LP com várias covers - Hyldon passava por problemas pessoais, desejava dar uma nova orientação a seu som e inovava fazendo um disco que era praticamente de soul radical. O romantismo de Na rua, na chuva... era mantido, só que misturado a algumas experimentações e a uma ambientação sonora bem mais elaborada e chique do que no primeiro LP. O resultado foi que, em 1976, apenas 5000 cópias foram prensadas e vendidas, sem alarde.
Correndo por fora das tradicionais séries de relançamentos (Brasil de A a Z, Samba Soul, 100 anos disso e daquilo), Hyldon resolveu reeditar seu segundo disco, só que a seu modo: o exigente soulman entrou em estúdio e, além de remasterizar as músicas, regravou todos os vocais - que ele julgava malfeitos - e mexeu em várias partes instrumentais, com o auxílio de alguns músicos participantes das sessões originais. Mesmo os puristas hão de concordar que ficou bem melhor, e o resultado é audível a partir da faixa-título, que abre o disco num clima quase gospel. O upgrade vocal melhorou bastante músicas que já eram quase perfeitas, como "Estrada errada" (uma alegre e comovente pré-disco, que poderia ter gerado mais um hit para Hyldon), "Homem pássaro" (jazz-soul aéreo, com Márcio Montarroyos fazendo wah-wah no trompete), "Pra todo mundo ficar sabendo" e a romântica e bela "Cor de maçã".
Adiantando em duas décadas o trabalho de artistas como Jair Oliveira e Max de Castro, Hyldon enxergou conexões entre o soul e o nordeste em "O boiadeiro" e "Morte doce", fez uma versão black de "Pra dizer adeus", de Edu Lobo (com o auxílio de Cristóvão Bastos, hoje um requisitado arranjador de MPB)... Mas as músicas que mais chamam a atenção no disco são a única parceria de Hyldon com Caetano Veloso, "Primeira pessoa do singular" (um samba-rock que ganhou um grande acento jazz graças ao flugelhorn de Paulinho Trompete), a bela "Búzios" (uma espécie de soul progressivo, com várias partes) e a curiosa "Sheila Guarany", uma ópera-rock girando em torno de uma figurinha bem peculiar. Hyldon, que havia recrutado para a gravação original de Deus, a natureza e a música um verdadeiro dream team (o pessoal do Azymuth, da banda Black Rio, Márcio Montarroyos, Carlos Dafé, Tony Bizarro, Robson Jorge, etc), conseguiu fazer, secretamente, um das maiores obras-primas da música brasileira.
Além das músicas originais do disco, o CD inclui três faixas bônus tiradas da fita master de Na rua, na chuva... e que haviam saído na coletânea Velhos camaradas 2, lançada em 2001 pela Universal (também quase secretamente, aliás). "Táxi pra Bahia" é uma das melhores definições do som de Hyldon: soul com a cabeça nos ritmos norte-americanos e os pés nas raízes nordestinas. "Palavras de amor ao vento", um samba-soul, fora gravada por Hyldon com outro nome no disco Nossa história de amor (CBS, 1977). E "Pelas ruas de Los Angeles", uma das melhores músicas do cantor, é um roquenrol negro que também poderia virar hit, mesmo que tardiamente. Hyldon é soul brasileiro como quase não se faz mais, desprovido de qualquer compromisso com modas, eletronices ou emepebismos.
Texto de Ricardo Schott, publicado no site discotecabasica.com.
Fazer o download de Hyldon - Deus, a Natureza e a Música (1976).